É possível prevenir diabetes desde criança?

A Dra. Asta Brandão, endócrino-pediatra do CEP, fala como prevenir.

Em primeiro lugar precisamos compreender que diabetes não se trata de uma doença única, mas sim de um grupo de distúrbios metabólicos que cursam com hiperglicemia. Os tipos mais comuns são o diabetes mellitus tipo 1, diabetes mellitus tipo 2 e diabetes gestacional, existindo ainda um grupo de outros tipos específicos de diabetes.

O diabetes mellitus tipo 1 corresponde a cerca de 5 a 10% dos casos e ocorre em decorrência da destruição das células beta pancreáticas, que são produtoras de insulina. Na maioria dos casos essa destruição ocorre devido a produção de auto-anticorpos em pessoas geneticamente predispostas e a principal recomendação preventiva se baseia no estímulo ao aleitamento materno exclusivo, evitando o consumo de leite de vaca principalmente nos 3 primeiros meses de vida.

O diabetes mellitus tipo 2 representa 90 a 95% dos casos e se caracteriza por resistência a ação da insulina e por uma inadequada resposta compensatória na secreção de insulina. Sua incidência vem aumentando consideravelmente e assumindo proporções epidêmicas em países em desenvolvimento, sobretudo afetando pessoas mais jovens. O aumento da incidência de diabetes mellitus tipo 2 em jovens se deve, em grande parte, ao aumento da incidência de obesidade na infância e adolescência, com crescente sedentarismo e dietas hipercalóricas. Aproximadamente 70 a 90% dos jovens que desenvolvem diabetes tipo 2 são obesos e, destes, 38% apresentam obesidade mórbida.

O antecedente familiar de diabetes mellitus tipo 2 também tem um papel importante. Observa-se que os indivíduos afetados tem pelo menos um parente de primeiro ou segundo grau portador de diabetes mellitus tipo 2. A obesidade e a história familiar se somam como fatores de risco para o desenvolvimento de diabetes mellitus tipo 2 e este risco se eleva ainda mais com hábitos alimentares ruins e sedentarismo.


O diabetes mellitus tipo 2 tende a ter uma evolução insidiosa, iniciando geralmente com um quadro de resistência à insulina, em que há uma diminuição da habilidade da insulina em estimular a utilização da glicose pelos tecidos. Neste estágio a glicemia ainda é mantida em níveis normais às custas de um aumento da produção de insulina, sobrecarregando as células beta do pâncreas. À medida que o processo persiste ocorre a acentuação da resistência à insulina, até chegar a hiperglicemia e o aumento dos níveis de glicose leva a deterioração da função das células beta. No estágio em que há a resistência insulínica, mas as células beta pancreáticas ainda produzem insulina adequadamente, é possível normalizar o metabolismo da glicose restabelecendo a sensibilidade dos tecidos à insulina. Entretanto, quando já ocorre a hiperglicemia e o comprometimento da função das células beta pancreáticas, caracterizando o diabetes mellitus tipo 2, o tratamento deve ser iniciado e mantido ao longo de toda a vida, não havendo mais possibilidade de resolução.


Em resumo, há uma forte relação entre o diabetes tipo 2 com a obesidade, hábitos alimentares ruins, sedentarismo e predisposição familiar. Não podemos interferir na predisposição genética, mas fica claro que é possível prevenir o diabetes mellitus tipo 2 mantendo hábitos alimentares saudáveis e praticando atividade física regularmente. A manutenção de um estilo de vida saudável, além de prevenir a obesidade, ainda ajuda a reduzir consideravelmente o risco de desenvolver dislipidemias e doenças cardiovasculares. Nos casos em que a resistência insulínica já está instalada pode ser necessária a instituição de tratamento medicamentoso, sempre associado às mudanças de estilo de vida. Nos casos de crianças ou adolescentes obesos ou com sobrepeso é imprescindível reverter o quadro de obesidade, reduzindo o depósito de gordura abdominal. Para que se tenha sucesso, a reeducação alimentar deve envolver toda a família, com melhores escolhas na hora de fazer as compras de supermercado, na forma de preparar os alimentos e também na hora de escolher uma refeição pronta. Muitas vezes as famílias optam por opções de alimentos mais práticos e rápidos de preparar, deixando de lado o aspecto nutricional. É preciso encontrar alternativas que viabilizem o preparo de refeições mais saudáveis na correria do dia-a-dia e não atribuir à "falta de tempo" a culpa por uma má alimentação.


As crianças e adolescentes devem reduzir o tempo dispensado com equipamentos eletrônicos, procurando mesclar as atividades escolares com esportes e brincadeiras ao ar livre. É importante que a criança escolha as atividades com as quais tenha mais afinidade, entretanto os pais não devem permitir que os filhos limitem suas escolhas a atividades não cabíveis na rotina familiar e desta forma acabem se tornando sedentários.


Este texto tem caráter educativo para esclarecimento e orientação dos pais.

Criança feliz é criança saudável!