Quando levar seu filho ao pronto atendimento pediátrico?

O Dr. Ricardo Lamia, pediatra, explica:

Os pais têm muitas dúvidas sobre quando levar ou não levar seus filhos ao Pronto Atendimento Pediátrico, principalmente mamães e papais de primeira viagem. Muitos imaginam que estão sendo precipitados, mas ao mesmo tempo temem deixar passar algo importante, que exija uma intervenção imediata.

Durante todos esses anos que trabalhei em Prontos Socorros, tenho observado o comportamento desses pais e por essa razão resolvi escrever esse texto para orientar e ajudar nesse momento difícil de indecisão e algumas vezes até de desespero ao ver um filho doente.

Vamos ao mais comum e mais frequente motivo, a febre. Nosso organismo tolera, em geral, temperaturas entre 36° e 37.5°C. Acima dessa temperatura, mais frequentemente a partir de 37.8°C, já consideramos febre.

A febre não é considerada emergência nem urgência, é simplesmente uma reação do nosso organismo a qualquer tipo de doença ou inflamação. É um alerta sinalizando que algo não vai bem. Segundo minha experiência, o maior medo dos pais é, na realidade, o risco de que a febre possa ser um gatilho para que a criança apresente uma convulsão. Realmente é possível que a febre seja um fator precipitador de crises convulsivas, as chamadas convulsões febris. Essas convulsões são mais frequentes entre 3 meses e 5 anos de idade acometendo de 2 a 5% das crianças e em geral são benignas e autolimitadas, resolvendo espontaneamente em poucos minutos. Na maioria das vezes ocorre como episódio único, mas pode haver recorrência, promovendo verdadeiro pânico entre familiares e cuidadores. Entretanto, acalme-se, pois apesar de ser uma manifestação clínica tão "chocante", as convulsões febris não deixam sequelas neurológicas e não comprometem o pleno desenvolvimento das crianças. Portanto, se seu filho não tiver antecedentes de doenças neurológicas e apresentar uma convulsão desencadeada pela febre, coloque-o de lado para evitar a aspiração de saliva, observe se não há resíduos de alimento ou nenhum objeto na boca e o proteja de possíveis traumas, monitorando o tempo de crise. Na grande maioria dos casos, a crise cessa antes da criança chegar ao serviço de pronto atendimento, mas se ainda não tiver cessado o mais importante será o controle da crise e logo descobrir a origem da febre. A investigação da convulsão poderá ser realizada em ambiente hospitalar ou poderá até mesmo ser feita em uma consulta de rotina em consultório, dependendo de fatores como idade da criança, tipo, duração e recorrência da crise.

Cada organismo tolera uma temperatura. Algumas crianças podem convulsionar com 37.8° C (baixa) ou com mais de 40° C (alta) e não há como prever. Portanto, se seu filho tiver febre e mantiver um bom estado geral, sem outros sinais de alarme, não se preocupe em levá-lo imediatamente ao Pronto Atendimento. Avalie a possibilidade de levá-lo ao consultório de um Pediatra de sua confiança ou que já acompanhe seu filho, evitando que ele corra o risco de sair do hospital com alguma doença a mais. Além disso, não esqueça de pedir ao seu pediatra, em cada consulta, orientações quanto a qual antitérmico usar e qual a dosagem correta, pois a dose varia de acordo com o ganho de peso da criança.

Agora vamos falar sobre tosse, outro quadro frequente e estressante para os pais. A tosse tem muitas origens e entre as mais frequentes temos: alergias, processos infecciosos virais agudos, infecções bacterianas e até a doença do refluxo, entre outras.


Entre os processos virais, temos as famosas "viroses", desde um resfriado comum até gripes, que são diferentes entre si, pela intensidade dos sinais e sintomas e duração do quadro. Geralmente esses processos se acompanham de coriza, obstrução nasal e febre (alta ou baixa). Nesses casos muitos pais sofrem em pensar que a criança possa estar desenvolvendo uma Pneumonia. As pneumonias podem ser tanto virais quanto bacterianas e o seu mais importante sinal de alerta é um cansaço evidente, que vai piorando progressivamente, podendo evoluir com coloração arroxeada de lábios e extremidades e queda do estado geral. Caso a criança apresente tosse, mas esteja respirando normalmente, sem cansaço, se mantenha ativa e apresente coloração normal da pele, os pais podem tranquilamente levá-la ao consultório para avaliação.


Outro motivo frequente são manchas no corpo:

Manchas ou outras lesões de pele, muito confundidas com alergias, levam muitos pais a procurarem atendimento pediátrico, mas nem todas as manchas ou erupções de pele são causadas por processos alérgicos.


A alergia propriamente dita deixa placas no corpo, geralmente bem avermelhadas, podendo ser menores ou acometer áreas bem extensas da pele, são facilmente perceptíveis ao toque e coçam bastante. Esse tipo de alergia poderia ser considerado como urticária, e geralmente nesses casos, o pronto Socorro seria necessário para administração de medicamentos, principalmente porque alguns casos podem levar também a inchaço das pálpebras, lábios e vias aéreas, comprometendo a passagem do ar e a oxigenação do sangue, o que exige intervenção médica imediata.


Manchas ou erupções na pele também são causados por doenças infecciosas como o Sarampo (já eliminado de nosso meio graças às vacinas, mas que ainda circula fora do Brasil), Dengue, Zika, Chicungunya, Exantema súbito, Rubéola, Parvovirose, Escarlatina, entre muitas outras. Estas doenças geralmente podem ser avaliadas e acompanhadas em consultório, exceto quando há alguma complicação.


Outro tipo de lesão de pele são as petéquias, minúsculos pontinhos como a extremidade de um alfinete, de cor avermelhada ou arroxeada, que surgem pela fragilidade de pequenos vasos sanguíneos e podem ser um sinal de alerta para doenças potencialmente graves. Por isso, caso uma criança sem antecedentes de problemas na coagulação do sangue apresente petéquias (principalmente se associadas a febre), deve ser imediatamente levada a um serviço de Pronto Atendimento.


Diarréia e/ou vômito também são muito frequentes, em todas as faixas etárias. Na grande maioria dos casos o quadro é auto-limitado, necessitando apenas de tratamento sintomático e reposição de líquidos.


A complicação mais temida pelos pais em casos de vômitos e/ou diarreia é a desidratação. Desde que não haja sintomas de desidratação (boca seca, olhos fundos, prostração, sede intensa, redução do volume de urina) seu filho pode ser tratado em consultório. Também é importante observar se há sangue ou pus nas fezes, pois nesse caso pode ser uma infecção mais invasiva que necessite de tratamento específico, sendo necessária uma avaliação médica o mais breve possível.


Em geral, crianças saudáveis necessitam vomitar mais de 10 x ao dia, sem tolerar a hidratação oral, para evoluir para desidratação. Entretanto algumas crianças, principalmente bebês, podem desidratar mais rapidamente. Por isso é importante que os pais fiquem alerta aos sinais de desidratação e se a criança vomitar repetidas vezes ou tiver diarreia intensa e não conseguir se alimentar ou tomar a medicação via oral, este também é um caso em que há necessidade de hidratação venosa e a necessidade de Pronto Atendimento é imperiosa.


A asma é uma doença muito frequente que assusta e tira o sono dos pais, mas para reduzir os danos é importante que os responsáveis sejam orientados quanto a como proceder se a criança entrar em crise.

Caso você tenha um filho que seja asmático, é importante que ele seja acompanhado por um pediatra, alergista ou pneumologista, que oriente a reconhecer uma crise de asma e quais medicamentos usar tanto para controle como para prevenção das crises. Se a criança é asmática e já é acompanhada por um especialista, tenha sempre receitas atualizadas e os medicamentos disponíveis em casa para poder utilizá-los no momento em que a crise de asma surgir. As crises de asma são classificadas em leves/moderadas, graves ou muito graves. De acordo com os sintomas, se a criança estiver apresentando uma crise grave ou muito grave, ou se ela não apresentar sinais de melhora com a medicação utilizada, você necessitará levá-lo ao Pronto Atendimento. Caso contrário, seu médico assistente poderá orientar o tratamento que deverá ser administrado.

Se seu filho não tiver antecedente de crises de asma e apresentar dificuldade para respirar e tosse persistente, deverá ser levado ao Pronto atendimento.


Agora vamos falar um pouco sobre algumas possíveis intercorrências que podem acometer os bebês recém nascidos. São considerados recém-nascido bebês entre 0 e 28 dias de vida. Após essa fase, eles são chamados de lactentes.

De uma maneira geral, evite levar os recém-nascidos às Emergências Pediátricas. Essa é uma fase delicada da vida, e a maioria dos seus problemas podem ser cuidados em consultórios pediátricos (cólicas, erupções de pele, cuidados com o coto umbilical, técnicas de amamentação, etc). Poucas são as indicações de Atendimento Pediátrico de Emergência para recém nascidos, entre elas a febre e a hipotermia. A temperatura normal em recém nascidos varia de 36,5 a 37°C, sendo considerado hipotermia temperaturas mais baixas, sobretudo inferiores a 35,9°C. A temperatura deve ser aferida com termômetro na posição correta e em contato direto com a pele. As roupas devem estar de acordo com o clima: se o bebê estiver vestido em excesso pode apresentar elevação da temperatura, assim como deve ser devidamente aquecido no frio. Se não houver febre ou hipotermia e o recém nascido estiver em bom estado geral, a consulta poderá ser agendada em consultório pediátrico.


É importante que seu filho tenha um pediatra de confiança, geralmente o do consultório e de acompanhamento rotineiro, pois isso facilita a consulta e a decisão da medicação que poderá ser administrada, uma vez que o profissional pode ter acesso a todo o prontuário com o histórico de avaliações da criança. Se precisar de uma avaliação por uma intercorrência que não seja uma emergência, antes de levar seu filho a um Pronto Socorro tente agendar uma consulta ambulatorial.


O acompanhamento pediátrico de rotina, o famoso C e D (crescimento e desenvolvimento), é de extrema importância para avaliar a evolução da criança, facilita a comunicação entre os pais e o pediatra, permite que o profissional já conheça o histórico de doenças e cria oportunidade para que os pais tirem dúvidas e saibam como proceder em determinadas situações e intercorrências do dia-a-dia, evitando uma série de problemas e até medidas desnecessárias. Leve seu filho regularmente ao pediatra, nem que a consulta seja somente para tirar as dúvidas, como acontece muito com os pais de primeira viagem. O intervalo de tempo entre as consultas de rotina depende da idade e necessidades de cada criança, sendo geralmente de um mês no primeiro ano de vida e posteriormente mais espaçadas, de acordo com as orientações do pediatra.


Este texto tem caráter educativo para esclarecimento e orientação dos pais.

Criança feliz é criança saudável!